quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
OS PRESÍDIOS AMAZONENSES, ONTEM E HOJE
Recentemente, assisti a
uma entrevista do Secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos, o Dr. Márcio
Meirelles, na qual afirmava que a situação dos presídios no Estado Amazonas é
igual à de todos os outros do Brasil afora, com superlotações carcerárias, revoltas,
motins e fugas constantes - enfim, são simplesmente depósitos de presos e, não
cumprem de fato com o papel primordial de ressocializar os encarcerados,
preparando-os para a sua integração junto à sociedade - este problema não é
novo, como veremos a seguir.
Lendo os velhos jornais,
pude verificar que os comentários do nobre secretário, são preocupações antigas
das nossas autoridades públicas – somente para ilustrar, em 1924, houve uma visita
e relato da situação do Presídio de Paricatuba, um casarão construído no início
do século passado, que serviria para hospedaria de emigrantes italianos, mas,
somente foi utilizado como cadeia pública, leprosário e escola de artífices.
Segundo relatos daquele
ano, os reclusos eram tratados como seres irracionais, entre a tortura da fome
e a infâmia da arrogância – a grande maioria era do interior do Estado e,
estava a espera que a Justiça decidisse sobre a sua sorte, pois alguns estavam
apenas “pronunciados” e outros nem culpa formal tinham!
O Chefe da Detenção era o
Sr. Mário Monteiro, chamado por muitos de desalmado, pois os detentos tinham
apenas uma muda de roupa e eram obrigados a comer uma carne chamada de “balata”
e, aqueles que reclamavam, ficavam acorrentados e se alimentavam de carne podre
com arroz bichado.
Diante desse quadro
desolador, muitos detentos se rebelavam e fugiam constantemente - com a
nomeação do novo Chefe de Polícia, o Dr. Olegário Castro, houve a demissão do então
Chefe de Detenção, nomeando outra pessoa e, fez uma visita ao Presídio de
Paricatuba.
Foi em companhia do Dr.
Guilherme Victor, Diretor do Gabinete de Identificação e o Sr. Francisco
Pereira, Secretário da Chefia - os mesmos embarcaram às cinco da manhã na lancha
“Pedro Bacellar” e, chegaram as sete em Paricatuba – a comitiva foi recebido
pelo novo Diretor do Presídio, o Sr. Arthur Franklin de Mendonça, e o seu
ajudante, o Joaquim Campello.
O prédio já se encontrava
quase em ruínas, porém, a nova direção havia providenciado a limpeza das celas,
desaparecendo um pouco o cheiro de podridão que imperava nos vastos
apartamentos daquele casarão - o xadrez principal, apesar das baldeações, ainda
conservava aquele cheiro de “piché”, característico de chiqueiros de porcos.
O Chefe de Polícia ouviu
os suplícios dos detentos e, alguns deles revelaram sobre os maus tratos que
passaram na administração anterior – eram utilizados palmatórias e chicotes de
balata, como forma de sobremesa obrigatória, após longas horas de estafantes
trabalhos nas matas.
Foram encontradas na
“garage” máquinas para serviços na lavoura, enormes caminhões e tratores, com
bastantes peças sobressalentes, avaliados em valores vultosos, todos jogados às
intempéries, sem a devida utilização em prol da população carcerária.
O Dr. Olegário fez um
relatório ao Governador do Estado e, tudo mudou para melhor – os detentos foram
examinados e tratados por um médico; receberam duas mudas de roupas novas e foi
organizado o refeitório, com envio diário de carne verde e hortaliças compradas
no Mercado Adolpho Lisboa, trazidas pela lancha “Pensador”.
Tempo depois, foi feita a transferência
dos presos para Manaus, para o local onde funcionava a antiga Escola de
Aprendizes Artífices e, posteriormente, para a Penitenciária Pública, tornando
mais uma vez um simples depósito de presos.
Como podem observar, fiz
um pequeno passeio pela história, para mostrar que o passado, assim como o
presente, a realidade dos presídios continua quase a mesma – em minha opinião,
o apenado deve pagar pelos seus erros, além de trabalhar para o seu próprio
sustento e ajudar a sua família – não ficar somente na espera do auxílio
reclusão.
Temos uma imensidão de
terras na Amazônia e, espaço não é problema para se construir presídios
agrícolas em campos naturais (sem a necessidade de desmatamento), onde o preso
possa plantar/colher e se alimentar decentemente; formar cooperativas e vender para
a merenda escolar das crianças do ensino fundamental público.
De acordo com o Código
Penal, os presos com pena privativa de liberdade (reclusos e, também, os detentos),
no regime semi-aberto, devem trabalhar em Colônias Agrícolas e, os do regime
fechado, o Estado deve dar condições para eles trabalharem no turno diurno
dentro do sistema prisional e, em alguns casos, até externamente, além de
oferecer cursos supletivos profissionalizantes.
Sabemos que todo o trabalho
do preso, deve ser remunerado e com garantias dos benefícios da Previdência
Social, dessa forma, com o dinheiro arrecadado, uma parte seria destinada à
família do encarcerado e, outra, para uma poupança forçada, onde somente seria
disponibilizado quando ele cumprisse a sua pena.
Infelizmente, o poder
público não ver dessa forma, prefere virar as costas para o problema, deixando
os presos amontoados, sem ocupação, rendas e perspectivas de uma nova vida no
futuro -, contribuindo, dessa forma, para a formação da escola da criminalidade
dentro da própria cadeia e, aumentando a cada dia o caldeirão de
descontentamentos, o que provoca constantemente as revoltas, motins e fugas nos
presídios amazonenses, tanto ontem, como hoje.
É isso ai.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
FOTOGRAFIAS DOS BAIRROS DA GLÓRIA E SÃO RAIMUNDO
Gosto de mostrara no nosso blog fotografias de Manaus e, hoje, publico algumas dos bairros de São Raimudo e Glória, onde aparecem de cima para baixo:
1. Um grupo de meninos batendo uma pelada num quadra que existe na bifurcação das avenidas que dão acesso aos bairros da Compensa, São Raimundo e Glória;
2. Igarapé do São Raimundo, onde as águas já começam a aparecer, além de algumas casas que estão com os seus dias contados, pois serão retiradas do local pelo PROSAMIN;
3. Praça abandonada pelo poder público e, desprezada e depredada pelos moradores;
4. Igreja Nossa Senhora da Glória - morei neste bairro e, frequentei centenas de vezes essa igreja, onde tenho boas lembranças. Tempos bons!;
5. Campo do São Raimundo, onde o time da casa estava treinando, pois a tarde estava marcado um jogo com o Princesa do Solimões, em Manacapuru;
6. Vista da Glória e São Raimundo, aparecendo ao fundo a exuberante floresta amazônica;
7. Ponte de São Raimundo e o Rio Negro na cheia;
8. Pequenos barcos e ao fundo um transatlâtico no Porto de Manaus (Rodoway);
9. Antigo prédio da Cervejaria Miranda Corrêa - estou preparando uma postagem sobre uma noite de carnaval no interior desse prédio, em 1910;
10. Parte do que sobrou a primeira tentativa de construir a Ponte de São Raimundo;
11 e 12. Obras do PROSAMIN na Bacia do Educandos.
É isso ai.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
PAUSA PARA O COMERCIAL – BIOTÔNICO FONTOURA
Alguém lembra de um antigo single que era mais ou menos assim: “Bê, á, bá. Bê, e, bé. Bê, i, Bi...otônico
Fontoura!”? Claro que não, dirão a grande maioria, mas, somente a velha guarda
lembra muito bem.
Pois é, este foi o remédio da minha geração dos cinquentões - ele era um fortificante e antianêmico, criado em 1910, pelo farmacêutico brasileiro Cândido Fontoura.
Ele ainda é comercializado
no Brasil e, em 2010 completou cem anos, entrando para a lista de medicamentos
mais antigos e ainda circulando em nosso país.
O recorde de jornal é da
década de quarenta, aliás, irei publicar mais coisas do nosso passado - "Use o Biotônico Fontoura. De gosto agradável, preparado segundo uma fórmula rigorosamente cientifica. Não só desperta o apetite, mas provoca um levantamento geral das forças. É um poderoso fortificante que renova as energias, tonifica os músculos e nervos e restaura as forças perdidas"
A nova geração bem que
poderia começar a tomar o Biotônico Fontoura, aliás, vou correndo comprar o meu na Drogaria Lemos! É isso ai.
CHICO GOMES: O REI DO QUEBRA-QUEIXO DE MANAUS
Ao passar pela esquina da
Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua Barroso, em frente ao prédio de uma das lojas
da Riachuelo, avistei o meu velho amigo Francisco José Gomes, mais conhecido
como Chico do Quebra-Queixo, um trabalhador que completou cinquenta anos de
profissão, vendendo o mesmo produto pelas ruas de Manaus.
O quebra-queixo possui
vários significados, porém, o que estou me referindo é um preparado de caramelo
com castanhas do Brasil, duro que nem uma pedra e, cortados em pedaços com uma
espátula de metal, com o tamanho de acordo com o bolso do freguês (o menor
custa dois reais) – ao colocar na boca, o gosto é indescritível, uma delícia,
mas, gruda na arcada dentária de tal forma que, quem não tiver paciência poderá
quebrar os dentes, a dentadura e até o queixo!
Conheço o Chico desde
quando eu estudava no Colégio Barão do Rio Branco, situado na Avenida Joaquim
Nabuco, quase em frente ao Hospital da Beneficente Portuguesa – faz muito tempo, não é mesmo? Naquela época, eu e meus irmãos, éramos todos curumins e, o Chico era um rapazinho
que já trabalhava para ajudar a sua família.
Todo santo dia, rodava os
colégios Dom Bosco, Brasileiro e Barão – na hora da merenda, colocava o seu
tabuleiro bem em frente ao meu colégio, vendendo essa guloseima que era feita
pelos seus pais.
Aliás, essa é uma tradição
que vem do seu avô, que passou para o seu pai e, aos quinze anos, o Chico já
fazia os seus doces, e, este já passou para a sua filha, que possui a sua
própria banca de venda de quebra-queixo, nas proximidades da Esquina dos Sucos,
na Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua 24 de Maio.
Do produto da venda desse
doce, ajudou os seus pais e irmãos mais novos, tirou o seu próprio sustento,
constituiu família, criou os filhos e ainda dá para ajudar na educação dos
netos.
Ele está com 65 anos idade,
em plena forma física, vive sempre alegre e satisfeito, pois apesar de não ter
completado o ensino fundamental, abraçou esta profissão que lhe dá um bom
rendimento diário.
Por ter trabalhado durante
muitos anos nas portas dos colégios, muitos moleques que compravam a sua
guloseima naquela época, passam, ainda hoje, pela sua banca para comprar este
doce; alguns são professores, doutores, políticos e até empresários – ele não
esquece os seus nomes, tanto que ainda lembrou o meu nome (José), dos meus irmãos
(Rocha, Henrique e Graciete) e até do papai (Rochinha do Violão), pois ele
também vendia pela Rua Huascar de Figueiredo e Igarapé de Manaus – lembrou
também do meu colega Roberto, um dos filhos do Doutor Conte Telles (um famoso
médico que morava na Huascar).
Ficou famoso em
Manaus, tanto que gosta de mostrar aos clientes e amigos, um recorde de uma
matéria de página inteira, feita pelo Jornal Diário do Amazonas, em 2006, com o
título “Chico Gomes: O Rei do Quebra-queixo de Manaus”.
Pelo visto, algumas tradições ainda persistem em nossa cidade, ainda bem! Parabéns ao nosso querido amigo Chico Quebra-queixo. É isso ai.
Pelo visto, algumas tradições ainda persistem em nossa cidade, ainda bem! Parabéns ao nosso querido amigo Chico Quebra-queixo. É isso ai.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO AMAZONAS
Ele é conhecido cariosamente pelos seus estudantes como
IEA, constituindo-se num dos mais tradicionais colégios de Manaus e, no próximo
dia 06 de Março completará 133 anos de existência, pois foi criado em 1880, quando
o Brasil ainda era uma monarquia e o Amazonas uma província.
A sua primeira
sede foi na Praça D. Pedro II, mudando por várias vezes, chegando somente ao
lugal atual (Rua Ramos Ferreira, 909, centro), em 1944, na administração do
interventor Álvaro Maia (1893-1969).
O prédio atual do IEA, foi erquido sobre os escombros de
um dos mais audaciosos projetos arquitetônicos do Governador Eduardo Rebeiro,
projetado pelo Domenico de Angelis, para abrigar o Palácio do Governo, uma obra
que se não fosse destruída pelo opositores do citado governador, seria mais
imponente do que o próprio Teatro Amazonas.
A denominação do Instituto de Educação do Amazonas (IEA),
data de 03 de Outubro de 1965, no governo de Arthur César Ferreira Reis
(amazonólogo – 1906-1996).
Foram cento e vinte anos formando professores para o
nosso Estado e, por força de determinaçao legal do então Ministério da Educaçao e
Cultura (MEC) que, instituiu o curso Normal Superior para o exercício do
magistério, sendo a última turma de normalistas do IEA foi formada em 2002.
A partir de 2009, o IEA passou a ser uma escola de tempo
integral, formando alunos de nível técnico, em parceria com o Centro de
Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM).
Tive o privilégio de estudar no IEA, em 1974, fiz o curso
básico, no turno noturno, foram os meus mestres o professor Garcitylzo do Lago
e Silva (falecido) e o professor João Martins Dias (atual Reitor do IFAM) – não
continuei os meus estudos por lá, pois não deseja seguir o curso de magistério.
É isso ai.
Foto: Rocha
domingo, 17 de fevereiro de 2013
MONUMENTO EM HOMENAGEM A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Ao
passar pela nova Praça do Congresso, fico sempre a olhar um monumento em
homenagem a nossa santa padroeira, com a lateral cheia de informações sobre os
motivos da sua edificação – apesar de não ser historiador, faço esta postagem
para tentar esclarecer um pouco mais sobre a construção daquele marco tão
importante para a nossa cidade.
A
Arquidiocese (administração geral das igrejas) de Manaus foi desmembrada da
então Diocese de Belém do Pará e, por determinação do Papa Leão XIII
(1810-1903), foi criada no dia 5 de Maio de 1892.
Para
homenagear o Papa, foi colocada uma placa no monumento com os seguintes dizeres
“Manaus de joelhos – diante de Leão XIII
Papa dos operários e criador da Diocese”.
O
primeiro Bispo da Diocese foi Dom José Lourenço da Costa Aguiar (1847-1905) -
nasceu em Sobral, Ceará e, faleceu em Lisboa, Portugal, porém, foi sepultado em
Manaus, na Catedral de Manaus – o jazigo fica no lado direito de quem entra
pela porta principal.
No
monumento foi feita uma justa homenagem ao primeiro Bispo “Manaus agradecida – ao seu 1º Bispo – Dom José Lourenço de Aguiar – O
organizador da Diocese”.
Cincoenta
anos depois, para comemorar aquele importante acontecimento, foi realizada
naquela praça um congresso da igreja católica – numa das faces do monumento
está a seguinte dedicação “Para lembrar
aos pósteros o 1º Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus – comemorativo do
cincoentenário da criação do Bispado – A Prefeitura Municipal de Manaus ergueu,
sob as bênçãos do povo, este marco – à Nossa Senhora da Conceição, padroeira do
Amazonas – 5-5-1892 / 4-6-1942.
Com
relação a nossa padroeira “A devoção a
Nossa Senhora da Conceição data do início da igreja católica e a tradição foi
trazida para o Amazonas no século XVII pelos carmelitas, que construíram a
primeira igreja da região no local onde hoje está situada a Matriz. Talvez por
isso, ela tenha se transformado na padroeira do Estado”, conta o
pároco da Matriz, José Albuquerque.
Este
foi um dos maiores eventos da igreja católica de Manaus, realizado entre 31 de
Maio e 4 de Julho de 1942, com a participação do alto clero nacional e da
região norte – a praça que fora batizada de Praça Antônio Bittencourt, passou a
ser conhecida, até hoje, como Praça do Congresso.
Naquele
ano (1942), por coincidência de data, as autoridades aproveitaram o evento e a
construção do monumento, para homenagear o descobridor do nosso querido e
glorioso Rio Negro – numa das placas consta o seguinte “Em preito de gratidão a Dom Francisco de Orellana e aos seus
companheiros – no quarto centenário do descobrimento do Rio Negro – as
administrações do Estado do Amazonas e da Prefeitura de Manaus mandaram construir este monumento - 3-6-1542/3-6-1942”.
Acho
que esclareci ou pouco mais. É isso ai
Fotografias em cores: Rocha
Fotografias em cores: Rocha
BLOGDOROCHA: VIDA NOTURNA DE MANAUS
BLOGDOROCHA: VIDA NOTURNA DE MANAUS: Os turistas que visitam a cidade de Manaus reclamam da falta de informações sobre a vida noturna da cidade, além do calor, poucas opções de ...
BLOGDOROCHA: VIDA NOTURNA DE MANAUS
BLOGDOROCHA: VIDA NOTURNA DE MANAUS: Os turistas que visitam a cidade de Manaus reclamam da falta de informações sobre a vida noturna da cidade, além do calor, poucas opções de ...
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
HAHNEMANN BACELAR
O menino que um dia quis ser pintor. E foi.
E Também o mais genuíno dos pintores amazonenses, porque não houve outro ainda que tivesse as raízes tão profundamente entranhadas na terra.
Quando o conheci tinha ele 13 ou 14 anos. Expunha pela primeira vez na Feira de Artes Plástica do clube da madrugada, lá na Praça da Saudade. E já então os seus quadros tinham por tema o povo e os costumes da sua terra, onde nasceu.
Tanto a ingenuidade faceira das moças do interior, como o bulício desbragado das meninas “da Frei José dos Inocentes”, eram tratados com a mesma leve ironia e tocante ternura de quem é da mesma gente.
Porém, como não é possível, de momento, fazer-se um catálogo das suas pinturas, pois grande parte dos seus quadros se encontra dispersa e não localizada, resolvemos dar a público um álbum dos desenhos encontrados no seu caderno de apontamentos e papéis avulsos.
Simples, com uma economia extrema de pormenores, mas de uma força telúrica intensa, estes esboços fixaram no momento eterno as atitudes da sua gente, às vezes de modo grotesco, irreverentemente, mas sempre marcadas pelo gesto ancestral.
Por elas se pode medir o gênio de Hahnemann.
Aquela foi a época da demolição de valores, da negação da arte, das drogas, do movimento hippie Hahnemann, como muitos outros jovens, não pode deixar de se envolver pela doutrina nova e fascinante.
Usou cabelo “black power”, jeans, deixou de pintar – “quadro a óleo já era”- fez “viagens”.
Depois... Depois foi tempo de pesadelo. A notícia apareceu no jornal em pleno carnaval. Mostrei para a Regina, e durante toda a manhã, sombrios, não trocamos comentários.
Só a hora do almoço, na defesa das paredes de nossa casa, ainda sem falarmos, a Regina me abraçou, choramos sem controle. Só então conversamos sobre a notícia. Tinha de haver alguma coisa errada.
Lúcia apareceu ao fim da tarde. O que aconteceu Lúcia, dilacerada, foi à Delegacia de Polícial Lá não sabiam de nada.
Telefonaram para Belém. E a resposta veio num telegrama lacônico e cru. Era verdade.
Não sei quantos dias se passaram sem que tivesse coragem de ir a casa de Hahnemann. A mãe, alucinada, chorando falava, repetia-se numa obsessão sem que as frases se ligassem. Segurei-lhe a cabeça para que não enlouquecesse.
Hahnemann suicidou-se em Belém no dia 22 de Fevereiro de 1971. Tinha 23 anos. Naquele dia, a lâmina da tesoura se cravou em todos os nossos corações, não só no dele. Ainda dói.
Fonte: Hahnemman - Amazonas, Gov. do Estado. Fundação Cultural.
*Álvaro Pascoa - Nasceu em Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro (Portugal), em 1920, faleceu na cidade de Manaus, Estado do Amazonas (Brasil), em 1997. Considerado como um dos maiores representantes ilustres da classe dos artistas plásticos da cidade Manaus. Segundo o site da Biblioteca Virtual do Amazonas “Em sua terra natal participava de militâncias socialistas e grupos de teatro experimental. Era um autodidata. Aprendeu as técnicas de entalhe, xilogravura e escultura observando os grandes artistas plásticos. Mudou-se para o Brasil, em 1958, vindo a residir em Manaus, onde rapidamente integrou-se aos movimentos culturais da época, um deles, o Clube da Madrugada, por meio do qual participou de diversas exposições com obras em técnicas variadas: esculturas, gravuras, entalhes e desenhos". Foi dirigente da Fundação Cultural do Amazonas, embrião da atual Secretaria de Cultura do Amazonas (SEC).
Conheci o Sr. Pascoa quando eu ainda tinha os meus doze anos de idade, ele sempre ia aos sábados visitar o meu saudoso pai Rochinha, na oficina de violões que ficava nos porões de um chalé da família Bringel, na Rua Huascar de Fiqueiredo. Era uma oportunidade para eu ganhar os trocados para ir ao cinemana Guarany, pois lavava com todo zelo o seu automóvel, um Citroen importado.
Tive oportunidade de visitar a sua casa, no Conjunto Manauense, no bairro de Aleixo, inclusive, a sua mãezinha gostava muito de mim. Com relação as fotografias, tirei de um exemplar de um livro editado pela Fundação Cultural do Amazonas, onde o Sr. Pascoa já foi presidente - este livro está na Biblioteca Pública, na sala onde estão os jornais antigos. Esta postagem foi feita na própria BPA, pois ela está toda informatizada, disponibilizando aos usuários dezenas de computadores com acesso a internet.
Conheci o Sr. Pascoa quando eu ainda tinha os meus doze anos de idade, ele sempre ia aos sábados visitar o meu saudoso pai Rochinha, na oficina de violões que ficava nos porões de um chalé da família Bringel, na Rua Huascar de Fiqueiredo. Era uma oportunidade para eu ganhar os trocados para ir ao cinemana Guarany, pois lavava com todo zelo o seu automóvel, um Citroen importado.
Tive oportunidade de visitar a sua casa, no Conjunto Manauense, no bairro de Aleixo, inclusive, a sua mãezinha gostava muito de mim. Com relação as fotografias, tirei de um exemplar de um livro editado pela Fundação Cultural do Amazonas, onde o Sr. Pascoa já foi presidente - este livro está na Biblioteca Pública, na sala onde estão os jornais antigos. Esta postagem foi feita na própria BPA, pois ela está toda informatizada, disponibilizando aos usuários dezenas de computadores com acesso a internet.
O Hahnemann Bacelar (1948-1971), recebeu este nome em homenagem ao alemão Hahnemann, um médico que difundiu a homeopatia em Paris. Foi um jovem amazonense de talento, premiado em 1966, destacou-se na pintura e foi profundamente influenciado pelo caráter expressionista de seu mestre Álvaro Páscoa – tendo como temática de sua obra a figura humana e a denúncia social, com colorido intenso e vibrante.
A primeira fotografia, da esquerda para a direita estão: Aurélio, Enéas, Álvaro Páscoa e Hahnemann. A quarta fotografia é de uma talha que está exposta no Bar do Armando, no Largo de São Sebastião, ele foi feita pelo artística plástico Roberto Cravo, a partir de um desenho do Hahnemann.
A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) teve a feliz ideia em homenagear o nosso saudoso artista plástico, com a criação do Centro de Artes Hahnemann Barcelar, no CAUA, situado à Rua Tapajós com a Rua Monsenhor Coutinho, no centro antigo de Manaus. É isso ai.
A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) teve a feliz ideia em homenagear o nosso saudoso artista plástico, com a criação do Centro de Artes Hahnemann Barcelar, no CAUA, situado à Rua Tapajós com a Rua Monsenhor Coutinho, no centro antigo de Manaus. É isso ai.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2013
Bato
palmas para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com relação ao
tema da campanha de 2013, denominada de “Fraternidade e Juventude”, tendo em
vista a Jornada Mundial da Juventude que acontecerá em Junho no Rio de Janeiro.
É o momento muito delicado para a nossa juventude, pois muito deles estão
morrendo antes de completar os seus vinte e cinco anos de idade, tudo em decorrência do
apelo ao consumismo em que os jovens são sendo bombardeados todos os dias na mídia,
aliado ao consumo exagerado de drogas ilícitas e lícitas (álcool e tabaco), além
da violência urbana e doméstica e, a igreja na tentativa de estancar isto, está
fazendo um movimento para que os jovens se aproximem mais da igreja, despertando
neles, a reflexão e a adesão de valores mais justos e solidários.
Os meus
amigos cinquentões gostam de falar que, a nossa juventude foi bem melhor do que a de hoje, pois não existia esta escalada tão grande da violência, o abuso
desenfreado das drogas, a intensa desestruturação das famílias – éramos mais
solidários uns com os outros, não tínhamos essa apelo maluco pelo consumismo e,
além de curtimos numa boa as festinhas e diversões, tínhamos Deus no coração. É
isso ai.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
CAMINHADA POR MANAUS NA TERÇA GORDA DE CARNAVAL
Terça gorda de carnaval, enjoado até o talo da folia
momesca, de repente, alguém bate a minha porta, abro e, vejo a minha filha
Adriana e a netinha Duda, vieram para me visitar, passear por Manaus e fazer
compras na Feira da Banana – é comigo mesmo, pois estava com saudades delas e
também precisava respirar um pouco a minha cidade, deu para unir o útil ao
agradável.
O lance era caminhar desde a Rua Tapajós até a Manaus
Moderna – o dia está calmo, tranqüilo, sem chuvas nem sol, poucas pessoas na
rua, pouquíssimos automóveis circulando, com a maioria do comércio fechado.
Paramos na Praça de São Sebastião, fizemos uma pausa
para fotografias, depois, seguimos pela Rua Costa Azevedo, observei um grupo de
pessoas jogando dominó, aliás, aqueles moradores possuem esta tradição de
reunir os vizinhos e amigos para uma partida do domino gratias (Graças ao Senhor), uma expressão dita pelos padres
europeus para assinalar a vitória de uma partida.
Passamos pela Confraria da Tia Nega, o Tio Pimenta me
convidou para uma rodada de cervejas, não aceitei, pois a minha intenção era
caminhar com as minhas filhas e fazer compras.
Ao lado do Colégio Estadual, pela Rua Rui Barbosa,
encontrei com o meu velho amigo, o Geraldo da Sefaz, ela tinha acabado de
visitar as suas duas irmãs, elas moram numa casa dentro do colégio, a mesma em
que o seu pai, o porteiro Henrique, morou durante 49 anos, aliás, veio a minha
mente em fazer uma postagem sobre o pai do meu amigo, pois ele é lembrado até
hoje por milhares de pessoas que passaram por aquele colégio tradicional de
Manaus.
Mais uma parada na Praça da Polícia, fizemos nova
sessão de fotografias, pois a praça é linda e bem conservada – seguimos pela
Rua Doutor Moreira, entramos pelo Beco do Comércio e paramos na Praça Tenreiro
Aranha, mais conhecida como Praça do índio, onde a Duda curtiu alguns
brinquedinhos feitos em madeira.
Seguimos pela Rua Marquês de Santa Cruz, com netinha
com os olhos arregalados, olhando os produtos dos camelôs, pois tudo é novidade
para ela – possui apenas três anos e meio – ao chegarmos ao Mercado Municipal
Adolpho Lisboa, ela ficou vislumbrada com o Rio Negro e com a movimentação dos
barcos, realmente, ela é uma caboquinha da pátria amada e farinha.
Fizemos a devidas compras na Feira da Banana e,
caminhamos até o ponto do ônibus, ajudei na subida do buzão, beijos e abraços
e, fui até a LANhouse do Paulo, na Avenida Sete de Setembro, para a minha
insatisfação, eles não tinham um leitor de cartão de memória, pois estava afim
de postar as fotografias do carnaval do Bar Caldeira e da minha caminhada
por Manaus.
Na volta, passei bem longe da Banda do Cinco Estrelas, pois estou farto de carnaval. É isso ai.
MANÁOS HARBOUR LIMITED & RODOWAY
BLOGDOROCHA: MANÁOS HARBOUR LIMITED & RODOWAY: A MHL era uma empresa estabelecida em Londres, na Inglaterra, instituída pela família Booth (donos da empresa de navegação Booth and St...
CASA DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO DA UFAM
BLOGDOROCHA: CASA DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO DA UFAM: Fica na Rua Barroso nº 267, centro antigo de Manaus, o prédio foi cedido, em 1947, para abrigar a sede da União dos Estudantes do Amazonas (...
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
AVENIDA JOAQUIM NABUCO - MANAUS
BLOGDOROCHA: AVENIDA JOAQUIM NABUCO - MANAUS: É considerada como uma das mais extensas de Manaus, com início na margem esquerda do Rio Negro, na “Manaus Moderna” e termina na Avenida ...
sábado, 9 de fevereiro de 2013
AMAZONENSES (V)
Dando prosseguimento as
homenagens aos amazonenses, hoje, é o dia do saudoso músico Celito – ele foi
cantor, compositor, pesquisador cultural e violonista e fundador da Banda
Independente da Confraria do Armando (BICA) – o texto a seguir, foi escrito
pela Heloísa Braga, viúva do nosso homenageado – ela escreveu a meu pedido, porém, vai mais além, pois faz um passeio muito
bonito pela história cultural da nossa terra.
CELITO
CHAVES, nascido Jocelin Ferreira Chaves, na Rua Vinte e Quatro de Maio, centro
de Manaus, em 10/10/1946, era filho de Alberto do Vale Chaves (marítimo,
mecânico) e Maria Audacy Ferreira Chaves (prendas do lar, costureira), ele de
Três Casas/Humaitá-AM, ela de Riacho do Sangue/Sobral-CE, tendo ido menina
ainda para Três Casas. A família morou em vários endereços, sempre no Centro ou
na Praça Quatorze: Apurinã, Dr. Machado, Tapajós, Tarumã. Celito estudou no
Grupo Escolar Euclides da Cunha e no Instituto de Educação do Amazonas, tendo
passado também pelas aulas particulares e pela palmatória da conceituada (pelos
pais!) Dª Merandolina.
Desde seu tempo de ginasiano, no Instituto
de Educação, se destacou pela desenvoltura em público, tendo sido representante
de classe e orador “oficial” da turma na saudação aos novos colegas e aos aniversariantes,
conclamado a tal – o que ele anos depois contava com muito orgulho - pelo respeitado
mestre João Crisóstomo de Oliveira. Lá no Instituto, aflorou também seu pendor
musical, iniciando-se, no ritmo, na fanfarra do colégio. Foi nessa época que
despontou para o palco, participando do concurso, na Divina Providência, que
elegeu o Rei do Rock no Amazonas, cantando “Broto Legal”, na pegada do cantor
Sérgio Murilo, sucesso da Jovem Guarda. Daí ter-se tornado atração, aos
domingos, naquela casa, onde o apresentador Azevedo (da TV Lar) perguntava ao
público, enquanto ele cantava atrás das cortinas, “de quem é essa voz”?
Já formado, no curso Normal, e
trabalhando no Porto de Manaus, onde entrou com quinze anos, como estafeta,
fundou com Adelson Santos (teclado), Noval Benaion Melo (bateria), Luis Carlos
Santos (?) (guitarra) e Lindomar (? filho do Dr. Mozart Miquelino, advogado),
na casa do primeiro, no bairro de Aparecida, o conjunto “The Rocks”, que começou
tocando nas festinhas de casa de família e se profissionalizou nos clubes da
juventude “dorée” da cidade, Ideal (papinha dançante na boate Moranguinho), Rio
Negro e também no Cheik Clube, nos Barés, São Raimundo e Educandos. Deste tempo ressoam ainda as antológicas disputas,
no Festival Lira de Prata, promovido pelo Cheik Clube, entre os “The Rocks” e
seu rival, surgido logo depois *, “The Blue Birds”. Continuando no ritmo e
incorporando a harmonia e a melodia, Celito tocava baixo e fazia vocal. Seu
primeiro baixo foi feito pelo conceituado luthier Rochinha e a técnica vocal
aprendida com os irmãos Caminha, do Cancioneiro da Lua, cuja casa frequentou
adolescente.
O repertório do conjunto era composto
de rock americano, canções jovens românticas italianas, muito Beatles,
incorporando depois as músicas dos festivais, principalmente Caetano Veloso.
Por isso, ou por desavenças internas, o conjunto se desfaz (última apresentação
em...) quando o samba (Martinho da Vila, com o famigerado “Passei no
vestibular”) cai no gosto dos frequentadores dos clubes. Celito, para quem
rendimento do conjunto era necessário, passa então a atuar em outros grupos,
compondo inclusive o Blue Birds, como vocalista.
Casa-se com Lídia França de Melo, que
conhecera como bailarina no Teatro Amazonas, em cuja Orquestra tocara **; com
Lídia tem Eric, seu segundo filho, nascido em 1971 (sua primeira fora Illene,
nascida em 1969). Pai de família, se desdobra, de dia na Fábrica Barés, vivendo
a transição dessa, quando comprada pela Antártica, na Treves e de noite nos
conjuntos dançantes. Passa no vestibular da UA, para o curso de Letras, e no
concurso da SEDUC, professor de 1ª a 4ª, indo lecionar no Gustavo Capanema.
Anos depois ainda se lembrava dos seus primeiros embates com a criançada e da
vista e do vento abençoado, vindo do rio.
Sua passagem pelo curso de Letras
mostra bem quem era Celito Chaves. Já no vestibular recusara a ajuda o futuro
cunhado, fiscal (a família, bem situada socialmente, não via com bons olhos o
noivado com um músico pé rapado). O curso teve frequência irregular, devido aos
compromissos profissionais, mas foi aprovado em todas as disciplinas em que se
matriculou e era querido dos professores, não só por sua atuação em classe, mas
também pelo violão, que já o acompanhava nas noites. De tudo que cursou se orgulhava,
sobretudo das duas disciplinas de Alemão, ministradas por Frau Schubert, que
elogiava sua pronuncia; muitos anos depois, ainda gostava de repetir frases e
números, com a pronúncia perfeita que seu ouvido privilegiado captara.
Quando
o conheci, ainda era aluno de Letras, há alguns semestres sem se matricular;
incentivei-o a voltar e até o ajudei a decifrar os textos da famigerada
Linguística (na época eu também não entendia nada disso). Porém a UA implanta
seu primeiro programa de jubilamento e Celito é chamado a justificar os anos de
retenção. Entrevistado pelo mestre e amigo Carlos Eduardo..., lhe diz: “pode me
jubilar sem constrangimento, a UA me enganou, fiz vestibular para Artes, não
abriram o curso e me colocaram em Letras” Não houve quem o demovesse.
Quando ainda componente do The Rocks,
acompanhara o compositor Aníbal Beça em um festival ocorrido no Teatro Amazonas;
ganhando o compositor, foram todos convidados para se apresentar no Festival de
Horoco (?), em Villa Vicenzo, Colômbia. De lá, o conjunto foi conhecer Bogotá, rendendo
essa viagem muitas histórias, que Celito se deleitava em contar. A experiência
como acompanhante e arranjador nos festivais da década de sessenta, não só
rendeu essa viagem, mas sua passagem para a posição de também compositor.
Começa em um festival do Colégio Estadual, onde “Maria de todas as horas” já
alcança uma classificação; no Festival Estudantil do Amazonas, realizado no
anfiteatro do Parque Dez, com a presença de Carlos Imperial no júri, a canção
“Malissa” recebe o prêmio máximo do júri popular.
É época dos encontros para o bate papo
na Praça do Congresso, onde a nova geração, a sua maneira, imita o Clube da
Madrugada – Renan Freitas Pinto, Aldisio Filgueiras, Aníbal Beça Joaquim
Marinho e outros jovens sedentos da arte, fosse ela música, literatura ou
cinema. É época também das serenatas e das alvoradas, por ocasião dos
aniversários. Todos moram perto, pois a cidade ainda é pequena; anda-se pelas
ruas sem temor.
No início de 1975, o casamento de
Celito se desfaz, levando-o a ficar um tempo arredio das noitadas e dos amigos,
mas no dia 8 de junho aceita o convite para uma Manhã de Sol no Clube
Guanabara, na estrada do V8, ao qual comparece com seu inseparável irmão caçula
Roberto “Cambota”, exímio ritmista, baqueta de ouro da Escola de samba Vitória
Régia, da qual fora fundador; Roberto
era seu usual acompanhante no atabaque.
Cheguei
ao Clube na companhia do Luiz Wagner, o conhecido Vavá do Atabaque, e sua
namorada e futura esposa, Graça Guerra. Eles haviam ido me buscar na Travessa
Comendador Clementino, onde morava, e eu relutara muito em acompanhá-los, pois
vínhamos de duas “viradas”, uma na sexta, depois do show do Jorge Ben (ainda
não era o Jor) no ginásio do Olímpico, e outra no sábado, quando, depois de uma
feijoada na casa do Amazonino Mendes (ainda não era o político), no Parque
Dez, emendáramos para o Tarumãzinho.
Queria mais era descansar. Mas a turma não iria me deixar sozinha em um domingo
ensolarado.
Eu os conhecera na pizzaria Beb’s, na
Rua Leonardo Malcher, ao lado do escritório da Hidroterra, firma de consultoria
em estradas e barragens, que me trouxera a Manaus, em novembro de 1974, para cumprir
um contrato junto ao DERAM, o projeto do alargamento do acesso ao Aeroporto
Eduardo Gomes, que estava sendo construído. Pedrão e Lu, pernambucanos, donos
do estabelecimento pioneiro, me apresentaram à turma que ali se reunia para
tomar cerveja com pizza no belisco e principalmente cantar. Rinaldo Buzaglo no
violão, Vavá no atabaque, Marquinhos na caixa de fósforos, eram acompanhados
por todos; no repertório muito Vinicius de Morais, muito samba e bossa nova. Com eles frequentava outros bares, não eram
muito na época, e casa de seus amigos, com eles comecei a conhecer Manaus que
ate então me era restrita ao escritório, ao DNER e aos restaurantes do Centro
que serviam peixada sem espinha para aquele bando de rodoviários mineiros.
Chegando ao Guanabara, encontramos já
uma grande roda no salão, onde identifiquei vários conhecidos, e ao violão um
rapaz que eu não conhecia e que logo me chamou a atenção, por sua maneira de
interpretar, se dando à música; fui chegando perto e ele começou a cantar suas
composições, quando cantou “Maria de todas as horas”*** me rendi; naquela roda
minha atenção passou a ser só dele, afinal eu sou Maria também...
Muito
calor, fui à piscina; na saída d’água, vejo-o na borda me esperando, e acontece
que, aos subir os degraus da escadinha, um dos laços laterais de meu biquíni
ipanemense se desfaz, subo segurando e ele vem para amarrar. Um minuto de
suspense, respiro fundo e deixo, dizendo: “você está tomando conta de mim? Eu
estou precisando de quem tome.” Ao que ele responde: ”até quando você deixar”.
Voltamos
ao salão já olhos nos olhos. A tarde caiu, a turma foi indo embora, ficando somente
Celito, eu e Roberto. Um taxi deixou Roberto na Tarumã e nós na Travessa da
Comendador. Mais tarde fomos jantar (o primeiro de tantos e tantos, Celito
adorava um restaurante), no Chapéu de Palha, na Vila; comemos costela de
tambaqui grelhada, a mineira ainda não tinha aprendido a lidar com as espinhas.
Hoje, quando passo pela Rua Paraíba e vejo aquele posto de gasolina, penso no
crime que foi derrubarem aquela edificação tão pitoresca, projeto do arquiteto
Severiano Ribeiro, que foi palco de nosso primeiro jantar apaixonado.
E aí foram trinta e cinco anos de
convivência com muito amor, muita conversa, muita birita, muitos filhos
(fizemos quatro!), muitas viagens e, sobretudo, muita música. A música para o
Celito era um ambiente natural. Recentemente alguém comentou no Face a
facilidade que ele tinha de compor “a gente contava um caso e ele ia fazendo
uma música”. Com o tempo, Celito foi amadurecendo, diversificou o estilo e
aprimorou as letras.
Continuou gostando do baião, mas produziu bossa nova,
guarânia, acalanto, canção, samba, marcha, bolero. As letras mantiveram a
preocupação social – Carmen Doida, O Cabo Salustiel -, mas passaram a falar de
amor. E a cena cultural ganhou um participante inquieto: produz programa de TV,
para documentar os músicos e compositores, na então TV Educativa, onde
co-produz o Carrossel da Saudade; faz shows no Teatro Amazonas e pelo interior;
participa da Escola de Samba Sem Compromisso – foi com seu “Mundo encantado da
Criança” que o então bloco passa a categoria de escola, para despeito do
Andanças de Cigano – até que ela se mude do Centro; funda a BICA: faz marchas
para várias bandas, entre elas para a do Jangadeiro; faz música, durante oito
anos para a Banda do Boulevard; com Rinaldo Buzaglo, disputa na União da Ilha,
com um lindo samba enredo homenageando
....... que cai, para seu alívio (já estavam para matar gente, conta
ele) em quinto lugar;canta na noite em bares e restaurantes; faz jingles comerciais e políticos (Freire,
candidato à presidência, vem a Manaus e é recebido com música nossa, de Celito
e Guto Rodrigues), faz shows na praça; canta no comício das direta, pela
legalização do Partidão etc., etc.
E não deixa de frequentar os festivais:
vence por duas vezes o do SESI, na primeira vez com sua canção mais
conhecida, “A Saga do cabo Salustiel” e,
na segunda, na Bola da Suframa, com “Acalanto para gente grande”.Fica em
terceiro lugar no da Superintendência Cultural, atrás de duas canções
maravilhosas, “Nova Manhã”, de Roberto Dibo e a campeã “Dia de Festa”, do então
Torrinho, interpretada pela então Suzi somente. Despede-se deles com uma vitória tripla: no XI
FUM, ganha o 1º lugar com “Zona de Risco” (parceira comigo), mais conhecida
como ”Carmen Doida”, interpretada por Lucinha Cabral, o 2º com “Maria Célia” (parceria
comigo e com Rinaldo Buzaglo), e o melhor arranjo; só não ganhou a melhor
intérprete porque o Maca praticamente voou no palco, numa malha cor da pele e
uma capa negra, interpretando “Urubu” de Davi Almeida.
Onde a música chamava, lá estava Celito, com
sua facilidade de compô-la, de interpretá-la.
**Saibam
que o Teatro tinha sua Orquestra e seu Corpo de Baile, bem antes da era Robério
Braga.
*Qual
dos conjuntos surgiu primeiro? Contrariando os integrantes do The Rocks, Beto
Sá Gomes, o Beto do Blue Birds, afirma (e está escrevendo um livro), que foi o
Blue Birds.
***
“Maria, Maria, Maria vem vem vem / (...) Não falem mal das Marias/ porque eu vou
me zangar/ de uma elas eu vim/ as Marias eu devo amar”
Assinar:
Postagens (Atom)